17
jan

Móveis de escritório devem ser planejados com ergonomia para evitar danos à saúde

A ergonomia objetiva modificar os sistemas de trabalho para adequar suas atividades às características, habilidades e limitações das pessoas com vistas ao seu desempenho eficiente, confortável e seguro, define a designer de ambientes, especialista na área, Flávia Lima. Como explica, a tecnologia vem se modificando e sendo introduzida em toda atividade de trabalho e, com isso, todo tipo de escritório, desde o corporativo até um simples home office, precisa se adequar para receber esse novo equipamento que se insere no mercado a todo instante, alterando a forma de como exercer a função.

De acordo com Flávia, os mobiliários e equipamentos são, em muitos casos, oferecidos para o denominado “homem médio”, que exclui as pessoas fora desse perfil mediano, ou seja, os mais altos, os mais baixos, os mais obesos, os mais velhos, e até mesmo entre gêneros, homens ou mulheres. “Portanto, para atender a essa nova dinâmica da atividade, é preciso lançar mão da ergonomia, de maneira a propiciar a usabilidade necessária para o indivíduo. No caso específico dos escritórios, mesmo se tratando de um home office, é importante a consulta de um especialista para uma apreciação ergonômica. Assim, é possível fazer um levantamento antropométrico, conjugado com uma leitura da atividade principal exercida pelo usuário, mais as medidas do espaço disponível para esse ambiente, conformando em um cruzamento de dados que oferece base para desenvolvimento desse espaço, de forma a adequá-lo para o uso efetivo. A especificação de um mobiliário para o escritório deve vir, então, sempre vinculada ao usuário desse espaço”, ressalta.

A escolha correta dos móveis de uma empresa é tão importante quanto a de um bom profissional, na opinião do consultor de ergonomia da Artline Móveis e membro da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), Derly Araujo. Ele frisa que um mobiliário inadequado pode provocar dores musculares, dores de cabeça e até mesmo sérios problemas de saúde ao usuário, como lordose lombar, DORT (Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho) e LER (Lesões por Esforços Repetitivos). Entre os transtornos, podem ser citados dores nas costas, rigidez de pescoço e ombros, dores e tensão nas mãos e dedos, tendinites nos pulsos, pernas cansadas, problemas oculares, ansiedade, irritabilidade, depressão e estresse, que podem gerar desmotivação e insatisfação no trabalho, além de erros operacionais frequentes, acrescentam as sócias da AK Interiores, Ana Karina Chaves e Klazina Norden. “Existem legislações específicas para algumas atividades. No caso do call center, por exemplo, a normativa NR17 determina padrões para um ambiente seguro e confortável. Mas, mesmo nos outros setores, os empresários estão se conscientizando da importância de promover a qualidade de vida do funcionário no ambiente de trabalho. As pessoas passam a maior parte do seu dia desempenhando suas atividades profissionais e executá-las em local com móveis adequados é importante para evitar acidentes, prevenir doenças e contribuir na produtividade da empresa”, comenta Derly.

PASSO A PASSO

Levando em conta a ergonomia, para fazer a escolha certa pelos móveis, o primeiro passo é medir o tamanho do espaço disponível e analisar quantas pessoas ocuparão o local, observar o nível hierárquico de cada uma e as atividades que serão desempenhadas, continua Derly. “Também é preciso ter sempre o cuidado para que o local não deixe a sensação de enclausuramento, que é como estar dentro de uma caixa. Assim, o calor, o frio, a circulação de ar, a luz natural, a acústica e possibilidade de visualizar os colegas de trabalho precisam ser levadas em consideração”, complementa. O consultor acrescenta que a melhor forma de organizar o ambiente ergonomicamente é verificar se o espaço destinado para o trabalho é suficiente para mudança de posição do usuário, se tem paredes de cores claras e sem brilho, se a temperatura e a umidade são confortáveis, e se há poucos ruídos, para não perturbar a atenção e a comunicação. “Depois disso, é determinado o número de mesas, de computadores, de pontos de internet, energia e telefone. Também deve ser pensado quantas pessoas irão atender clientes pessoalmente para definir a quantidade e disposição de cadeiras, e deve-se verificar ainda se o ambiente terá sala de espera para mobiliar com sofás ou cadeiras, por exemplo”.

A altura das superfícies de trabalho, tais como mesas ou bancadas, é reconhecida como fator de causa de dores no pescoço, ombro e costas, e superfícies muito altas ou muito baixas não são indicadas, continua Derly. “A altura das mesas pode variar de 64 cm a 76 cm, dependendo da estatura da pessoa que vai ocupar o local. Por isso, a dica é, na hora de comprar, escolher mesas com regulagem de altura. Já as cadeiras devem ter as bases estáveis, cinco rodízios, ser giratória, ter regulagem de altura de assento, ajuste de inclinação e de altura de encosto, comandos de ajustes em posição acessível e com usabilidade. Para garantir maior conforto, o revestimento do assento deve permitir transpiração. A espuma deve ser espessa e semi rígida”. O ideal, segundo o especialista, é dar preferência a produtos que possuam certificações, como a da ABNT, já que são diversas as normas e especificações técnicas que padronizam o mobiliário e asseguram contra acidentes e problemas de saúde.

Para evitar reflexão indevida de luz, a superfície da estação de trabalho precisa ser de material fosco. O profissional alerta ainda que a borda de contato com o usuário deve ter um raio mínimo de 2,5 mm, ou seja, levemente arredondada para evitar que em longo prazo haja estrangulamento dos tendões flexores dos punhos, prejudicando a mobilidade das mãos. A disposição das gavetas também é importante. “Se a mesa tiver uma gaveta muito grande, ela trava a cadeira e atrapalha a pessoa a se aproximar do computador. Ao se esforçar para aproximar do computador com uma postura incorreta, ela pode ter dores nas costas”, conta. Por isso, a indicação são gaveteiros separados. Outra questão a ser planejada são as cores, que podem motivar, relaxar ou até mesmo gerar estresse nas pessoas que ocupam o ambiente. “Por isso é preciso escolher cores não apenas pela combinação e pelo design, mas pela sua funcionalidade. A iluminação do espaço também pode interferir positiva ou negativamente, conforme a atividade a ser desempenhada”, diz Derly. No caso do uso das cores no ambiente de trabalho associada a um planejamento adequado da iluminação, o resultado é uma economia de até 30% no consumo de energia e aumentos de produtividade que chegam a 80 ou 90%, complementa Flávia Lima.

MEDIDAS INDIVIDUALIZADAS

As decoradoras sócias da AK Interiores, Ana Karina Chaves e Klazina Norden acrescentam que as medidas adequadas do mobiliário variam de acordo com cada pessoa, e o que deve-se levar em consideração são os seguintes itens: punhos em posição neutra, sem dobrar; teclado diretamente à frente; mouse próximo ao teclado e no mesmo nível; joelhos discretamente abaixo dos quadris; pés apoiados no solo, ou com descanso para pés; altura do assento abaixo da rótula; descanso de braços na altura do cotovelo; encosto adaptado a curvatura da coluna, além de ombros e quadris alinhados. “O ideal seria que todos os móveis, tanto do escritório quanto de casa, fossem adequados ergonomicamente, ou seja, estudados para proporcionar conforto, maior rendimento no trabalho e também prevenir acidentes. A ergonomia promove a segurança e o bem-estar das pessoas e consequentemente a eficácia nas atividades que elas desenvolvem”, afirmam.

O arquiteto sócio da Raduan Arquitetura, André Bove, e o sócio diretor da empresa, Felipe Raduan, frisam que pensar em ambientes corporativos ou domésticos com espaço adequado para o profissional trabalhar é um detalhe a ser levado em consideração. “Um ambiente bem planejado e agradável para exercer a atividade profissional é um grande passo para o conforto ergonômico. A principal vantagem de pensar na ergonomia em ambientes de trabalho é a melhora do desempenho do profissional. Concentração e produtividade são alguns pontos que uma boa ergonomia pode gerar”. Planejar tanto a parte ergonômica quanto a decoração complementa o espaço, segundo André e Felipe. “Aliando um projeto bem elaborado com a ergonomia, a empresa só tem a ganhar em qualidade para seus profissionais”, completam.

Equilíbrio com produtividade

De acordo com a designer de ambientes Flávia Lima, quando o espaço está projetado com base na ergonomia, está alicerçado na tríade que sustenta essa abordagem: segurança, conforto e eficiência. Portanto, trará inúmeras vantagens. “A ergonomia é uma ciência que irá prezar sempre pelo equilíbrio e o respeito ao ser humano que faz uso do espaço construído. Ela não o considera como um mero executor de tarefas, mas como ator principal. Portanto, o design do espaço como um todo – iluminação, cores, materiais que serão usados para a composição do mobiliário e para os revestimentos da estrutura, o clima para o ambiente, os objetos que irão fazer parte do espaço, e todo equipamento necessário para o funcionamento do mesmo – são o foco para as recomendações e intervenções ergonômicas, de maneira a responder às necessidades e dimensões do usuário que ali executará suas tarefas. Um ambiente, quando projetado através dos princípios da ergonomia, é um local cujas interfaces homem-ambiente-objeto se harmonizam”, esclarece.

Com mais de 20 anos de atuação no mercado nacional, a Artline Móveis é exemplo de uma empresa que se dedica exclusivamente a fabricação de mobiliário para escritório, todos pensados com base na ergonomia. Com 16 lojas por todo o Brasil, sendo uma em Belo Horizonte, na região da Savassi, todas as peças possuem certificação da ABNT, como explica a gestora, Túlia Araujo. Com opções em cadeiras, bancadas, mesas presidenciais, gabinetes, armários, gaveteiros, sofás e materiais como carpetes, revestimentos acústicos de parede e divisórias variadas, são quatro linhas de produtos (Class, Fit, Uno e Soft), cada uma para um perfil diferente de profissão e ambiente. “Dependendo do projeto, o cliente pode comprar apenas uma cadeira, mas também fazemos um projeto completo com toda a solução que a empresa ou a pessoa precisa”, destaca Túlia.

A gestora da Artline conta que este tipo de produto tem boa procura, e os clientes em potencial são formados por todo o público corporativo, com empresas de todos os portes, sejam multinacionais ou não, e qualquer pessoa que esteja montando escritório em casa. “Possuímos uma equipe de engenheiros, projetistas e ergonomistas especializados em mobiliários corporativos que desenvolvem produtos que sejam funcionais, ergonômicos e com design diferenciado. Dentro de rígidos controles de qualidade, a Artline segue as normas da ABNT e possui ainda o selo Ecolabelling, que assegura ações em prol do meio ambiente”. Para Túlia, a importância da ergonomia para escritórios se justifica pela funcionalidade, segurança, prevenção de doenças laborais e pela produtividade.

Fonte: Estado de Minas